35 coisas para se fazer em um prédio

Ohayooo leitores. Hoje farei um post um pouco diferente do comum. Desde que comecei a escrever no OUD sempre tentei fazer posts que pudessem agradar e interessar o maior número de pessoas possível, mas mesmo assim sempre achei o blog um pouco feminino demais. O post de hoje foi inspirado em um grande amigo meu e creio que a maioria das leitoras vai acha-lo um pouco bizarro (até pq é para ser bizarro). Irei me dedicar a fazer mais posts que possam agradar a meninos e meninas. De qualquer forma, espero que ao menos se divirtam com os tópicos.

Para começar com estilo, tenho que dizer que nunca morei em um apartamento. As únicas vezes que tenho de ficar em apartamentos são quando vou visitar minha avó e meu pai. Graças a minha inabalável força de vontade e encheção de saco, convenci minha mãe a se mudar junto comigo para o Rio de Janeiro no fim do ano, e imaginem qual foi a minha surpresa eu já devia esperar por isso quando soube que moraria em um apartamento! Um lugar onde eu criaria antipatia novos amigos, conheceria vizinhos bizarros novos e teria de desenvolver o infernal dom da sociabilidade.
Por esses e outros motivos que eu criei uma lista com coisas que podem ser feitas quando se mora em um apartamento. Pretendo botar todas essas ideias em prática quando chegar a Niterói. Antes disso, espero que possam se aproveitar dessas experiências.

                 

1- Interfone para o porteiro e peça para que ele manobre sua bicicleta no estacionamento para que você possa sair.

2- Escolha uma receita gostosa e vá no apartamento de cada um dos seus vizinhos pedindo um dos ingredientes. Quando tiver todos, poderá fazer sua receita sem gastar um centavo!

3- Bata na porta do seu vizinho a noite, diga que tem um fantasma no seu apartamento e peça a ele que veja o que tem lá dentro. Se puder peça para ele levar água benta, uma bíblia e que leia alguma oração (se souber fazer exorcismo, melhor ainda).

4- Use a churrasqueira do prédio como incinerador de papéis velhos

5- Brinque de amarelinha nas escadas.

6- Interfone para o porteiro a cada 5 minutos e peça para que ele te conte uma piada, pois você está deprimido.

7- Chame seus amigos e joguem uno dentro do elevador.

8- Se preferirem, peguem uma lanterna e contem histórias de terror no elevador.

9- Amarre panos no seu chinelo, encha eles de cera para lustrar piso e brinque de patinar nos corredores.

10- Acorde de madrugada, vá para a ducha da piscina e cante em alto e bom som "singing in the rain".

11- Passe fitas de segurança nas escadas para que ninguém possa utilizá-las.

12- Quando apertar os botões do elevador finja que está tomando um choque.

13- Separe um pano e um vidro de Veja e limpe qualquer coisa em que os condôminos tocarem.

14- Junte todos os seus aparelhos eletrônicos (celular, notebook, ipad, câmera fotográfica, nintendo DS...) e coloque para carregar ao mesmo tempo na tomada da portaria. Se for possível, tire os pisca-piscas de natal da tomada para botar seus aparelhos.

15- Solicite uma reunião de condomínio de última hora para que seja escolhido um nome para o seu novo peixe.

16- Diga que quer ser porteiro, e portanto irá seguir o porteiro durante o dia todo para aprender seu ofício. (Não esqueça de segui-lo onde quer que ele vá, e leve um caderno para anotar tudo o que ele faz).

17- Peça para que todos os seus amigos comprem um pacote de sabão em pó e os joguem na piscina. (Depois entrem e façam muita agitação, para que se forme espuma).

18- Solte pombos\hamsters na portaria.

19- Bata fotos de todos os seus vizinhos e ponha num álbum. Se questionarem o motivo de fazer isso, diga que é para o caso de se algum deles for sequestrado ou estiver desaparecido, ter fotos para alertar a polícia.

20- Use fita isolante para fazer um perímetro ao redor da piscina. Quando alguém ultrapassar grite e puxe-a dizendo que a pessoa ultrapassou o limite de segurança.

21- Borrife água nos corredores dizendo que o ar está muito seco.

22-Ao pedir uma pizza, espere o porteiro interfonar perguntando se pode deixar o office boy subir e diga que ele só poderá entrar se disser a senha secreta do clubinho da pizza.

23- Peça para alguém segurar sua câmera para fazer um vídeo e passe 30 minutos falando sobre coisas aleatórias.

24- Bata na porta do vizinho perguntando se ele fez um gato na sua net.

25- Quando faltar luz, pegue uma vela, vá até a portaria, peça um fósforo para acender a vela, se ajoelhe e comece a fazer um culto bizarro com orações em latim.

26- Peça para testar um estetoscópio nos seus vizinhos. Se nenhum deles deixar teste o estetoscópio nas paredes.

27- Encha o portão da garagem de vasos de plantas para que os carros não possam sair.

28- Quando for aniversário de algum amigo, alugue o salão de festas e faça uma festa com temática GLS. é claro que para isso a pessoa deve ser um amigo muito próximo! Entre as músicas da festa devem estar I will survive, it's rainning man, macho man e robocop gay. Também fica legal comprar luzes vermelhas e plumas coloridas. Se tiverem pessoas idosas no prédio elas irão querer morrer adorar.

29- Tranque alguma porta com um cadeado (a da caixa de energia seria bem legal) esconda a chave e ajude a procurar o vândalo que fez uma brincadeira tão sem graça como esta no prédio.

30- Peça ao zelador\porteiro uma vassoura emprestada e use ela para ensaiar passos de dança.

31- Mate mosquitos imaginários toda vez que alguém tentar falar com você.

32- Faça vários textos desmotivacionais falando o quão supérflua é a vida, o quanto somos explorados pelo sistema, como os valores são invertidos... e espalhe-os pelo prédio com a frase "tenha um bom dia" ao final. Também é interessante fazer textos marxistas e colocá-los pelos corredores e elevadores.

33- Toda vez que conversarem com você sobre algum assunto absurdo, diga que conhece alguém que passou pela mesma coisa.

34- Bata bolinhas de ping-pong no chão do seu apartamento o dia todo e quando te censurarem pelo barulho, diga que alienígenas invadiram sua casa e dançaram parangolé na sua sala.

35- Diga aos seus vizinhos o quanto eles são pessoas incríveis e peça um autógrafo a todos eles.

Bem pessoas, é isso, se vocês conseguirem fazer essas coisas sem serem expulsos, ou sem terem que pagar multas milionárias de condomínio, conte nos comentários como foi a sua experiência.
Beijinhos para todos
~*~*~Dudinha~*~*~

Venha ver o por do sol

Ohayooooo gente! Comecei a procurar alguns contos pela net recentemente, e encontrei alguns dos quais gostei muito, por isso resolvi que vou fazer posts com os meus contos favoritos e compartilhar com vocês. Espero que também gostem deles tanto quanto eu gostei.
Hoje vou começar com o conto "Venha ver o por do sol" da autora brasileira Lygia Fagundes Telles.

"Ela subiu sem pressa a tortuosa ladeira. À medida que avançava, as casas iam rareando, modestas casas espalhadas sem simetria e ilhadas em terrenos baldios. No meio da rua sem calçamento, coberta aqui e ali por um mato rasteiro, algumas crianças brincavam de roda. A débil cantiga infantil era a única nota viva na quietude da tarde.
Ele a esperava encostado a uma árvore. Esguio e magro, metido num largo blusão azul-marinho, cabelos crescidos e desalinhados, tinham um jeito jovial de estudante.
- Minha querida Raquel.
Ela encarou-o, séria. E olhou para os próprios sapatos.
- Vejam que lama. Só mesmo você inventaria um encontro num lugar destes. Que idéia, Ricardo, que idéia! Tive que descer do taxi lá longe, jamais ele chegaria aqui em cima.
Ele sorriu entre malicioso e ingênuo.
- Jamais, não é? Pensei que viesse vestida esportivamente e agora me aparece nessa elegância…Quando você andava comigo, usava uns sapatões de sete-léguas, lembra?
- Foi para falar sobre isso que você me fez subir até aqui? – perguntou ela, guardando as luvas na bolsa. Tirou um cigarro. – Hem?!
- Ah, Raquel… – e ele tomou-a pelo braço rindo.
- Você está uma coisa de linda. E fuma agora uns cigarrinhos pilantras, azul e dourado…Juro que eu tinha que ver uma vez toda essa beleza, sentir esse perfume. Então fiz mal?
- Podia ter escolhido um outro lugar, não? – Abrandara a voz – E que é isso aí? Um cemitério?
Ele voltou-se para o velho muro arruinado. Indicou com o olhar o portão de ferro, carcomido pela ferrugem.
- Cemitério abandonado, meu anjo. Vivos e mortos, desertaram todos. Nem os fantasmas sobraram, olha aí como as criancinhas brincam sem medo – acrescentou, lançando um olhar às crianças rodando na sua ciranda. Ela tragou lentamente. Soprou a fumaça na cara do companheiro. Sorriu. – Ricardo e suas idéias. E agora? Qual é o programa?
Brandamente ele a tomou pela cintura.
- Conheço bem tudo isso, minha gente está enterrada aí. Vamos entrar um instante e te mostrarei o pôr do sol mais lindo do mundo.
Perplexa, ela encarou-o um instante. E vergou a cabeça para trás numa risada.
- Ver o pôr do sol!…Ah, meu Deus…Fabuloso, fabuloso!…Me implora um último encontro, me atormenta dias seguidos, me faz vir de longe para esta buraqueira, só mais uma vez, só mais uma! E para quê? Para ver o pôr do sol num cemitério…
Ele riu também, afetando encabulamento como um menino pilhado em falta.
- Raquel minha querida, não faça assim comigo. Você sabe que eu gostaria era de te levar ao meu apartamento, mas fiquei mais pobre ainda, como se isso fosse possível. Moro agora numa pensão horrenda, a dona é uma Medusa que vive espiando pelo buraco da fechadura…
- E você acha que eu iria?
- Não se zangue, sei que não iria, você está sendo fidelíssima. Então pensei, se pudéssemos conversar um instante numa rua afastada…- disse ele, aproximando-se mais. Acariciou-lhe o braço com as pontas dos dedos. Ficou sério. E aos poucos, inúmeras rugazinhas foram se formando em redor dos seus olhos ligeiramente apertados. Os leques de rugas se aprofundaram numa expressão astuta. Não era nesse instante tão jovem como aparentava. Mas logo sorriu e a rede de rugas desapareceu sem deixar vestígio. Voltou-lhe novamente o ar inexperiente e meio desatento –Você fez bem em vir.
- Quer dizer que o programa… E não podíamos tomar alguma coisa num bar?
- Estou sem dinheiro, meu anjo, vê se entende.
- Mas eu pago.
- Com o dinheiro dele? Prefiro beber formicida. Escolhi este passeio porque é de graça e muito decente, não pode haver passeio mais decente, não concorda comigo? Até romântico.
Ela olhou em redor. Puxou o braço que ele apertava.
- Foi um risco enorme Ricardo. Ele é ciumentíssimo. Está farto de saber que tive meus casos. Se nos pilha juntos, então sim, quero ver se alguma das suas fabulosas idéias vai me consertar a vida.
- Mas me lembrei deste lugar justamente porque não quero que você se arrisque, meu anjo. Não tem lugar mais discreto do que um cemitério abandonado, veja, completamente abandonado – prosseguiu ele, abrindo o portão. Os velhos gonzos gemeram. – Jamais seu amigo ou um amigo do seu amigo saberá que estivemos aqui.
- É um risco enorme, já disse . Não insista nessas brincadeiras, por favor. E se vem um enterro? Não suporto enterros.
- Mas enterro de quem? Raquel, Raquel, quantas vezes preciso repetir a mesma coisa?! Há séculos ninguém mais é enterrado aqui, acho que nem os ossos sobraram, que bobagem. Vem comigo, pode me dar o braço, não tenha medo…
O mato rasteiro dominava tudo. E, não satisfeito de ter se alastrado furioso pelos canteiros, subira pelas sepulturas, infiltrando-se ávido pelos rachões dos mármores, invadira alamedas de pedregulhos esverdinhados, como se quisesse com a sua violenta força de vida cobrir para sempre os últimos vestígios da morte. Foram andando vagarosamente pela longa alameda banhada de sol. Os passos de ambos ressoavam sonoros como uma estranha música feita do som das folhas secas trituradas sobre os pedregulhos. Amuada mas obediente, ela se deixava conduzir como uma criança. Às vezes mostrava certa curiosidade por uma ou outra sepultura com os pálidos medalhões de retratos esmaltados.
- É imenso, hem? E tão miserável, nunca vi um cemitério mais miserável, é deprimente – exclamou ela atirando a ponta do cigarro na direção de um anjinho de cabeça decepada.- Vamos embora, Ricardo, chega.
- Ah, Raquel, olha um pouco para esta tarde! Deprimente por quê? Não sei onde foi que eu li, a beleza não está nem na luz da manhã nem na sombra da tarde, está no crepúsculo, nesse meio-tom, nessa ambigüidade. Estou lhe dando um crepúsculo numa bandeja e você se queixa.
- Não gosto de cemitério, já disse. E ainda mais cemitério pobre.
Delicadamente ele beijou-lhe a mão.
- Você prometeu dar um fim de tarde a este seu escravo.
- É, mas fiz mal. Pode ser muito engraçado, mas não quero me arriscar mais.
- Ele é tão rico assim?
- Riquíssimo. Vai me levar agora numa viagem fabulosa até o Oriente. Já ouviu falar no Oriente? Vamos até o Oriente, meu caro…
Ele apanhou um pedregulho e fechou-o na mão. A pequenina rede de rugas voltou a se estender em redor dos seus olhos. A fisionomia, tão aberta e lisa, repentinamente escureceu, envelhecida. Mas logo o sorriso reapareceu e as rugazinhas sumiram.
- Eu também te levei um dia para passear de barco, lembra?
Recostando a cabeça no ombro do homem, ela retardou o passo.
- Sabe Ricardo, acho que você é mesmo tantã…Mas, apesar de tudo, tenho às vezes saudade daquele tempo. Que ano aquele! Palavra que, quando penso, não entendo até hoje como aguentei tanto, imagine um ano.
- É que você tinha lido A dama das Camélias, ficou assim toda frágil, toda sentimental. E agora? Que romance você está lendo agora. Hem?
- Nenhum – respondeu ela, franzindo os lábios. Deteve-se para ler a inscrição de uma laje despedaçada: – A minha querida esposa, eternas saudades – leu em voz baixa. Fez um muxoxo.- Pois sim. Durou pouco essa eternidade.
Ele atirou o pedregulho num canteiro ressequido.
Mas é esse abandono na morte que faz o encanto disto. Não se encontra mais a menor intervenção dos vivos, a estúpida intervenção dos vivos. Veja- disse, apontando uma sepultura fendida, a erva daninha brotando insólita de dentro da fenda -, o musgo já cobriu o nome na pedra. Por cima do musgo, ainda virão as raízes, depois as folhas…Esta a morte perfeita, nem lembrança, nem saudade, nem o nome sequer. Nem isso.
Ela aconchegou-se mais a ele. Bocejou.
- Está bem, mas agora vamos embora que já me diverti muito, faz tempo que não me divirto tanto, só mesmo um cara como você podia me fazer divertir assim – Deu-lhe um rápido beijo na face. – Chega Ricardo, quero ir embora.
- Mais alguns passos…
- Mas este cemitério não acaba mais, já andamos quilômetros! – Olhou para atrás. – Nunca andei tanto, Ricardo, vou ficar exausta.
- A boa vida te deixou preguiçosa. Que feio – lamentou ele, impelindo-a para frente. – Dobrando esta alameda, fica o jazigo da minha gente, é de lá que se vê o pôr do sol. – E, tomando-a pela cintura: – Sabe, Raquel, andei muitas vezes por aqui de mãos dadas com minha prima. Tínhamos então doze anos. Todos os domingos minha mãe vinha trazer flores e arrumar nossa capelinha onde já estava enterrado meu pai. Eu e minha priminha vínhamos com ela e ficávamos por aí, de mãos dadas, fazendo tantos planos. Agora as duas estão mortas.
- Sua prima também?
- Também. Morreu quando completou quinze anos. Não era propriamente bonita, mas tinha uns olhos…Eram assim verdes como os seus, parecidos com os seus. Extraordinário, Raquel, extraordinário como vocês duas…Penso agora que toda a beleza dela residia apenas nos olhos, assim meio oblíquos, como os seus.
- Vocês se amaram?
- Ela me amou. Foi a única criatura que…- Fez um gesto. – Enfim não tem importância.
Raquel tirou-lhe o cigarro, tragou e depois devolveu-o
- Eu gostei de você, Ricardo.
- E eu te amei. E te amo ainda. Percebe agora a diferença?
Um pássaro rompeu o cipreste e soltou um grito. Ela estremeceu.
- Esfriou, não? Vamos embora.
- Já chegamos, meu anjo. Aqui estão meus mortos.
Pararam diante de uma capelinha coberta de alto a baixo por uma trepadeira selvagem, que a envolvia num furioso abraço de cipós e folhas. A estreita porta rangeu quando ele a abriu de par em par. A luz invadiu um cubículo de paredes enegrecidas, cheias de estrias de antigas goteiras. No centro do cubículo, um altar meio desmantelado, coberto por uma toalha que adquirira a cor do tempo. Dois vasos de desbotada opalina ladeavam um tosco crucifixo de madeira. Entre os braços da cruz, uma aranha tecera dois triângulos de teias já rompidas, pendendo como farrapos de um manto que alguém colocara sobre os ombro do Cristo. Na parede lateral, à direita da porta, uma portinhola de ferro dando acesso para uma escada de pedra, descendo em caracol para a catacumba.
Ela entrou na ponta dos pés, evitando roçar mesmo de leve naqueles restos da capelinha.
- Que triste é isto, Ricardo. Nunca mais você esteve aqui?
Ele tocou na face da imagem recoberta de poeira. Sorriu melancólico.
- Sei que você gostaria de encontrar tudo limpinho, flores nos vasos, velas, sinais da minha dedicação, certo?
- Mas já disse que o que eu mais amo neste cemitério é precisamente esse abandono, esta solidão. As pontes com o outro mundo foram cortadas e aqui a morte se isolou total. Absoluta.
Ela adiantou-se e espiou através das enferrujadas barras de ferro da portinhola. Na semi-obscuridade do subsolo, os gavetões se estendiam ao longo das quatro paredes que formavam um estreito retângulo cinzento.
- E lá embaixo?
- Pois lá estão as gavetas. E, nas gavetas, minhas raízes. Pó, meu anjo, pó- murmurou ele. Abriu a portinhola e desceu a escada. Aproximou-se de uma gaveta no centro da parede, segurando firme na alça de bronze, como se fosse puxá-la. – A cômoda de pedra. Não é grandiosa?
Detendo-se no topo da escada, ela inclinou-se mais para ver melhor.
- Todas estas gavetas estão cheias?
- Cheias?…- Sorriu.- Só as que tem o retrato e a inscrição, está vendo? Nesta está o retrato da minha mãe, aqui ficou minha mãe- prosseguiu ele, tocando com as pontas dos dedos num medalhão esmaltado, embutido no centro da gaveta.
Ela cruzou os braços. Falou baixinho, um ligeiro tremor na voz.
- Vamos, Ricardo, vamos.
- Você está com medo?
- Claro que não, estou é com frio. Suba e vamos embora, estou com frio!
Ele não respondeu. Adiantara-se até um dos gavetões na parede oposta e acendeu um fósforo. Inclinou-se para o medalhão frouxamente iluminado:
- A priminha Maria Emília. Lembro-me até do dia em que tirou esse retrato. Foi umas duas semanas antes de morrer… Prendeu os cabelos com uma fita azul e vejo-a se exibir, estou bonita? Estou bonita?…- Falava agora consigo mesmo, doce e gravemente.- Não, não é que fosse bonita, mas os olhos…Venha ver, Raquel, é impressionante como tinha olhos iguais aos seus.
Ela desceu a escada, encolhendo-se para não esbarrar em nada.
- Que frio que faz aqui. E que escuro, não estou enxergando…
Acendendo outro fósforo, ele ofereceu-o à companheira.
- Pegue, dá para ver muito bem…- Afastou-se para o lado.- Repare nos olhos.
- Mas estão tão desbotados, mal se vê que é uma moça…- Antes da chama se apagar, aproximou-a da inscrição feita na pedra. Leu em voz alta, lentamente.- Maria Emília, nascida em vinte de maio de mil oitocentos e falecida…- Deixou cair o palito e ficou um instante imóvel – Mas esta não podia ser sua namorada, morreu há mais de cem anos! Seu menti…
Um baque metálico decepou-lhe a palavra pelo meio. Olhou em redor. A peça estava deserta. Voltou o olhar para a escada. No topo, Ricardo a observava por detrás da portinhola fechada. Tinha seu sorriso meio inocente, meio malicioso.
- Isto nunca foi o jazigo da sua família, seu mentiroso? Brincadeira mais cretina! – exclamou ela, subindo rapidamente a escada. – Não tem graça nenhuma, ouviu?
Ele esperou que ela chegasse quase a tocar o trinco da portinhola de ferro. Então deu uma volta à chave, arrancou-a da fechadura e saltou para trás.
- Ricardo, abre isto imediatamente! Vamos, imediatamente! – ordenou, torcendo o trinco.- Detesto esse tipo de brincadeira, você sabe disso. Seu idiota! É no que dá seguir a cabeça de um idiota desses. Brincadeira mais estúpida!
- Uma réstia de sol vai entrar pela frincha da porta, tem uma frincha na porta. Depois, vai se afastando devagarinho, bem devagarinho. Você terá o pôr do sol mais belo do mundo.
Ela sacudia a portinhola.
- Ricardo, chega, já disse! Chega! Abre imediatamente, imediatamente!- Sacudiu a portinhola com mais força ainda, agarrou-se a ela, dependurando-se por entre as grades. Ficou ofegante, os olhos cheios de lágrimas. Ensaiou um sorriso. – Ouça, meu bem, foi engraçadíssimo, mas agora preciso ir mesmo, vamos, abra…
Ele já não sorria. Estava sério, os olhos diminuídos. Em redor deles, reapareceram as rugazinhas abertas em leque.
- Boa noite, Raquel.
- Chega, Ricardo! Você vai me pagar!… – gritou ela, estendendo os braços por entre as grades, tentando agarrá-lo.- Cretino! Me dá a chave desta porcaria, vamos!- exigiu, examinando a fechadura nova em folha. Examinou em seguida as grades cobertas por uma crosta de ferrugem. Imobilizou-se. Foi erguendo o olhar até a chave que ele balançava pela argola, como um pêndulo. Encarou-o, apertando contra a grade a face sem cor. Esbugalhou os olhos num espasmo e amoleceu o corpo. Foi escorregando.
- Não, não…
Voltado ainda para ela, ele chegara até a porta e abriu os braços. Foi puxando as duas folhas escancaradas.
- Boa noite, meu anjo.
Os lábios dela se pregavam um ao outro, como se entre eles houvesse cola. Os olhos rodavam pesadamente numa expressão embrutecida.
- Não…
Guardando a chave no bolso, ele retomou o caminho percorrido. No breve silêncio, o som dos pedregulhos se entrechocando úmidos sob seus sapatos. E, de repente, o grito medonho, inumano:
- NÃO!
Durante algum tempo ele ainda ouviu os gritos que se multiplicaram, semelhantes aos de um animal sendo estraçalhado. Depois, os uivos foram ficando mais remotos, abafados como se viessem das profundezas da terra. Assim que atingiu o portão do cemitério, ele lançou ao poente um olhar mortiço. Ficou atento. Nenhum ouvido humano escutaria agora qualquer chamado. Acendeu um cigarro e foi descendo a ladeira. Crianças ao longe brincavam de roda."
 

sereias agora existem!


Quem nunca teve o sonho, pelo menos uma vez na vida, de ser uma sereia? Pois é, a canadense Monika Naumann criou caudas de sereia em um material semelhante ao usado em trajes de mergulho. Isso faz com que (ao contrario daquelas fantasias que usávamos na festa de carnaval do jardim de infância) seja possível nadar com elas sem que fiquem molhadas e pesadas!

Dá uma olhada nos modelos de caudas:

                                         

                                         

                                         

                                           

                                        

E para aquelas que querem se tornar futuras sereias, aqui está o site da Monika, as caudas são feitas sob encomenda.
http://3-fins.com/ordering-info/


     Eu estou loucamente apaixonada por essas caudas! vou começar a juntar as moedinhas para comprar a minha.
Beijos, beijos
~*~*~Dudinha~*~*~

Mundos mágicos

Bom dia lindos internautas! Hoje estou aqui para falar de filmes um tanto particulares. Fiz uma lista de títulos com histórias relacionadas a mundos mágicos e pessoais. Não sei exatamente pq, mas sempre gostei muito desse tema. Ver as pessoas criarem um mundo fantástico e cheio de magia ou redor de si mesmas, e que para mim era sempre muito mais legal que a vida mundana que outros personagens levavam, era um delírio que eu mesma desejava alcançar. Agora que não tenho que me preocupar tanto com o vestibular, entrei de vez nessa onda de me isolar em um lugar só pra mim. Eis então os filmes (e livros) que mais me inspiram a criar o meu mundo de imaginação.

1- Stardust o mistério da estrela.
Sem dúvida o meu preferido! Já fizemos um post sobre esse filme aqui no blog, mas explicarei de novo. O filme conta a história de um mundo mágico (Stormhold) que fica dividido do mundo real por uma muralha.Os seres que habitam o lado mágico não podem atravessar o muro, mas as pessoas do outro lado podem passar para o mundo mágico sem grandes problemas. A história de desenrola quando um cometa cai do lado mágico do muro, e em vez de ser apenas uma rocha cadente, esse cometa é na verdade uma mulher. O mais legal é que é ambientado em um cenário meio antigo-futurista, com seres mágicos, barcos que caçam trovões e duelos de espada. Para os amantes de romance, o filme é um prato cheio.
 





A fofa da Yvaine com o unicórnio que conheceu na floresta.



Tristan, Yvaine e o Capitão Shakespeare

Tem como não se apaixonar por esse casal??


2- A viagem de Chihiro.Chihiro, uma menina de 10 anos acaba de se mudar com seus pais para uma cidade em que não conhece ninguém. Enquanto está a caminho da cidade nova, seus pais param em uma clareira onde tem um túnel logo a frente. Chihiro (que já estava num mau humor terrível em função da  viagem) não demonstra a menor vontade de entrar, mas quando vê que seus pais vão atravessar o túnel com ou sem ela, acaba decidindo ir junto. A mágica ocorre quando ao sair do outro lado do túnel, a menina vê que existe um mundo mágico, seres que nunca vira antes lá são comuns. Existem animais que falam, pessoas que se transformam em bichos, pessoas com formas desproporcionais e magias que podem ser usadas em qualquer ser que viva nesse mundo.
                                           
                                                   Chiriro muito empolgada com a mudança.                                    

 
Alguns dos amigos que ela conheceu.

                                   
                                                                    Chihiro e Haku

3- Peixe grande e suas histórias maravilhosas.
Faz muito tempo que eu vi esse filme, mas ainda é um dos meus favoritos. Seguindo o mesmo estilo de Stardust com um ar de antigo-futurista, é uma coletânea de histórias em um único filme. O filme é sobre um homem que sempre contou histórias absurdas a todas as pessoas, entre elas, o seu filho. Quando já está velho, esse homem é internado devido a seu estado de saúde, mas ainda assim conta suas histórias, como se fossem reais. Seu filho, que já adulto e cansado de ouvir histórias que considera sem fundamento, ao ver seu pai no hospital, relembra de suas narrativas e resolve investigá-las.Imaginem qual foi a sua surpresa ao descobrir que tudo que seu pai contava não eram "apenas" histórias.

   
Cidade das pessoas que não usavam sapatos.

Só eu adoraria ser levada para um campo de flores como esse??

O gigante que fazia parte de uma das histórias.

4-Ponte para Terabitia.
Acho que todo mundo já viu esse filme pelo menos uma vez, até pq, teve uma época em que passava todo dia no telecine, mas de qualquer jeito, vamos a sinopse. Um garoto que vinha de uma família pobre (e bastante desintegrada) e sofria bullying na escola percebe que tem uma nova vizinha. Essa menina vai aos poucos se aproximando e criando amizade com ele. Conforme ficam mais íntimos, os dois se aventuram entre os bosques que tem perto de onde moram, e criam um mundo mágico só deles chamado de Terabitia. O único recado que eu deixo para aqueles que quiserem ver o filme, comprem um pacote de lenços, vão precisar.

                 
 Personagens principais do filme.


 A ponte para Terabitia.

5- Alice no país das maravilhas.
Os dois filmes (tanto o do Tim Burton quanto o da Disney) são muito bons, mas nesse caso, sugiro mesmo é que leiam o livro. O filme de animação da Disney está bem fiel à obra, mas tenho uma das edições aqui em casa, e preciso dizer, não trocaria o livro por nenhum dos dois filmes. A começar pelo fato de ambos os filmes omitirem alguns personagens com o Humpty Dumpty, o caxinguelê e a ovelha da loja de cacarecos. Amo demais os filmes, especialmente a versão 2.0 do Tim Burton, e se o seu objetivo é apenas se distrair, basta ver o filme, mas se realmente procura saber os detalhes da história (e até as mensagens subliminares que aparecem) super recomendo o livro.


 
Esta é a edição que eu tenho, nela estão as ilustrações originais feitas por John Tenniel na época em que o livro foi criado. As ilustrações são maravilhosas!

Essa é a versão gótica do livro.

E essa é uma das versões mais atuais de edição que eu encontrei.



6- Dom Quixote.
Outra dica de livro para aqueles que gostam de mergulhar em um mundo de fantasia é que leiam Dom Quixote. Lembro que quando ganhei o meu livro pensei "que legal, mas, qual é a história desse livro?" Verdade seja dita, todo mundo já ouviu pelo menos uma vez falar em Dom Wuixote, mas ninguém sabe ao certo como é a sua história, no melhor dos casos sabem que ele era louco e lutava com moinhos de vento. Bem, vamos esclarecer isso. Esse personagem era na verdade um fidalgo que, na faixa dos 50 anos, percebera que sua vida não era tão emocionante quanto as histórias de contos de cavalaria que costumava ler. Após se dar conta disso, fez o que qualquer pessoa sensata faria. Pegou um cavalo velho, uma armadura ruim, um pouco de dinheiro e fugiu de casa! Ele se tornou uma espécie de justiceiro as avessas, uma vez que todos os seus atos heroicos terminavam em desastre. O interessante da história é ver as relações que ele faz ao longo da narrativa. Como conhece Sancho Pança, e como o convence a lhe acompanhar em suas aventuras, como dedica suas lutas a Dulcinéia, um amor que nasceu na juventude e como enfrenta os perigos que se apresentam a ele.

                                  
Sir Dom Quixote de La Mancha.


Vários dos elementos presentes no livro arrumados para formar a figura do nosso astro.


Dom Quixote e seu fiel escudeiro, Sancho Pança.


7-Coraline.
Pra mim esse filme sempre foi uma versão trash de Alice no país das maravilhas. O que eu achei realmente leal é que se passa num mundo mágico do mal. Mesmo sem os pais darem a menos atenção à Coraline, quando eles são capturados, ela faz o possível e o impossível para resgatar eles, e isso dá a história um ar de heroísmo. Mesmo não sendo um dos meus favoritos, vale a pena assistir

                                                
Sinceramente, isso não é um filme infantil!


As semelhanças com Alice não são mera coincidência.

8- As crônicas de Nárnia.
É claro que não poderia faltar né? A história que rendeu três filmes e sete livros não poderia ficar de fora. O mundo mágico em que os quatro irmãos adentram é um dos mais caóticos de todos. A rainha de gelo quer ter o poder absoluto, o reino está na miséria por causa dela e os verdadeiros reis estão desaparecidos. E assim seguem as guerras e as conquistas da série. Também é claro recomendo que leiam os livros. Não os li, e por isso não posso dizer se são bons ou não, mas os livros contam toda a história do que houve com o reino, enquanto que os filmes só estão na terceira parte dela. De toda forma, imagino que os livros sejam bons, pois os filmes renderam muito público, e li algumas críticas dizendo que os diretores foram fiéis ao roteiro original.


 
 O personagem mais icônico do filme.

A cena que ficou marcada na memória de todo mundo.


9- O estranho mundo de Jack.O nome já é autoexplicativo. Um mundo em que os monstros sempre comemoraram o Halloween e se prepararam para assustar as pessoas muda quando Jack Skellington, o principal monstro da cidade se encanta por uma outra ocupação. O cenário do filme deixa bem claro que foi dirigido por Tim Burton, com vários prédios góticos e uma penumbra que se mantém durante todo o filme. Particularmente eu adoro esse tipo de filme e acho que além de nos fazer criar um mundo novo, nos mostra a perspectiva de que nem todo "reino distante de contos de fadas" tem de ser um lugar com palácios e bosques. As vezes o clima de terror é bem mais convidativo.

                                   
Jack após ver como era o natal. 
                       

                               
                                                               O mundo em que Jack vivia.

                                             
Jack e Sally

10- A noiva cadáver.
Mais uma obra de Tim Burton, mas essa tem um caráter mais "humano". Ao contrario de O estranho mundo de Jack, em que os habitantes de halloweentown são de fato moradores que nasceram e cresceram lá, em A noiva cadáver, o mundo de fantasias aparece como um"novo plano" para onde as pessoas vão após morrerem (dá para criar lugares incríveis até lidando com a morte). De todos os filmes do diretor, esse é o meu preferido! A história de como Victor Von Dort se apaixona por Emilly, e como ela viu sua vida ser tomada da forma mais cruel possível dão a história um romance muito particular. Entre todos os filmes de animação que eu já vi esse é o único que eu daria nota 10.





Se Tim Burton estiver certo, quando morrermos, vamos para um lugar parecido com este.


ok, isso vai soar um pouco necrófilo, mas eu tenho que admitir que acho ela muito linda!

11- O caminho para Eldourado 
Outro filme de animação que está na minha lista de preferidos.Conta a história de dois trapaceiros espanhóis que ganham a vida com jogos (roubando, claro) eles se perdem no mar e ficam a deriva até atracarem em uma ilha. Essa ilha é na verdade a América, onde os dois conhecem a civilização maia e a cidade de Eldourado. O interessante da história é ver os animais mágicos que viviam nesse lugar, como aves gigantes, peixes gigantes e tartarugas com chifres. Além desses fatores, o filme também  é interessante por mostrar  alguns aspectos da cultura maia, como seus rituais, oferendas e deuses.


                                     
Nossos ilustres protagonistas, Túlio e Miguel.


A trilha até Eldourado.


E finalmente a cidade.

12- Hora de aventura.
Não é um filme ou um livro, mas ainda assim conta histórias bem fantasiosas do Flin e seu cachorr-humano Jacke, então, acho que também está valendo!

13- O planeta do tesouro.
Se tem uma pessoa em quem eu me inspirava na infância era o Jim! Ele era nada menos que um menino gênio que tinha uma prancha que voava e navegou pelo universo num barco lunar. O que pode ser mais legal que isso? O clima de steampunk  ainda deixa o filme com um toque todo especial, meio futurista, mas sem ser aquelas distopias bizarras. No mundo em que ele vivia também haviam seres meio humanos meio animais, ciborgues, barcos voadores e todo tipo de tralha tecnológica. Simplesmente fantástico!

Só esse barco gigante voando já é o suficiente para ter vontade de ir ver o filme!

Nosso personagem principal, Jim.

Jim e um ciborgue.


E por fim, deixo vocês com uma musiquinha para que se inspirem em criar seus próprios mundos mágicos. Se alguém ai lembrar de mais algum filme, livro, série ou música relacionado ao tema, por favor coloque nos comentários que eu reedito o post e pondo o nome de quem sugeriu a obra.

   

 Sayonara queridos, e continuem lendo o blog, que em breve teremos novos posts.
Beijos beijos
 ~*~*~Dudinhaa~*~*~

E voltamos com tudo!

Ok, eu sei que o blog está mega desatualizado, mas tivemos um motivo muito sério para essa "negligência". Tanto eu quanto as outras meninas nos preparamos para o vestibular, e por conta disso tivemos de abandonar o blog. Aqueles que já fizeram sabem como é a tensão de ter de ser aprovado em alguma universidade, e aqueles que ainda não fizeram... bem, a vez de vocês vai chegar! Como as faculdades que eu pretendo fazer apenas se pode entrar por meio do ENEM (e o ENEM já passou) agora tenho tempo livre para voltar a postar, e quero voltar com força total \>...</ em breve as outras autoras voltaram a colaborar.
O único apelo que eu faço é, se você realmente quer deixar um blogueiro feliz por favor, deixe um comentário!


                            

Bem, agora, basta esperar e muito em breve o blog estará novamente em pleno funcionamento!
Beijos a todos os visitantes
~*~*~Dudinhaa~*~*~